Tretas que me vou lembrando #1 "A escola"
Lembrei-me ontem em conversa com a minha mãe, de uma história da minha infância que tenho de vos contar.
Todos nós nos lembramos das festinhas de anos de quando éramos crianças, de irmos a casa uns dos outros brincar (acho que hoje em dia devem fazer isto através do computador, do fortnite e essas tretas), há 20 anos eu tive uma situação que ainda hoje me toca muito e faz com que seja a pessoa que sou.
Fazia 10 anos e era a minha vez de convidae os meus amigos da minha turma, do meu bairro,etc... . Falámos em casa em como poderíamos fazer a festa de anos (sim porque a minha mãe falava disto como se eu fosse uma mini adulta), onde queríamos fazer, para quantas pessoas, o que comprar, entre outras. Naquela altura, estava na moda as festas de anos no Mc Donald's lembram-se?! Então eu pedi à minha mãe desalmadamente para ir ver quanto custava fazer lá a dita festa.
Alguns dias passaram e lá veio o número. Agora começava a discussão sobre quem convidar, eu queria ter lá a minha turma toda, mas o Mc Donald's não queria! Dado isto, eu lá fiz uma pequena análise e escolhi alguns (praticamente todos, lembro-me de não convidar alguns rapazes, porque enfim naquela idade são uns nojentos e porque eu era tímida demais).
Lá fizemos a festa, todos com o Happy Meal na mão, com direito a visita à cozinha e tudo (foi no da Praça da República de Coimbra que hoje já não existe), a memória que guardo é a de ficar espantada com a limpeza da cozinha e com a rapidez dos empregados. No meio disto tudo, apareceu lá a minha professora de Educação Visual para me oferecer uma prenda, um ouriço cacheiro de peluche ao qual chamei de Mico, que não me sai da cabeça.
Continuei a minha vida e passados uns meses, na recolha de notas, a minha mãe lá foi à reunião com a Diretora de turma. Quando voltou eu senti que me tinha portado bem e que ela vinha satisfeita (menos mal, se não era uma semana de castigo sem ir à rua).
Anos mais tarde (já em adulta), num dia cinzento, para me animar, ela contou-me o que a professora lhe tinha dito, ao que parece para a minha festa de anos eu tinha convidado todos os "misfits", pessoas que nunca tinham sido convidados para uma festa de anos (e era por isso que naquele dia ela vinha satisfeita), lembram-se daquele pessoal que ninguém convida, ou porque não encaixa nos grupinhos da escola, ou porque já estavam a repetir o ano pela terceira vez (sim naquela altura isso acontecia logo no 5º ano), para além do meu grupo com quem me dava melhor na escola (como é natural acontecer), convidei outros, pessoas de quem eu gostava também mas com quem não brincava em todos os intervalos. Em criança não me lembro de olhar para eles assim como "marginais" percebem? Eram crianças... .
Dito isto, eu sempre tive alguns problemas durante toda a minha vida em excluir pessoas (culpa da Sra. minha mãe), quando é para ir tomar café envio mensagem geral e quem quiser aparece.
Como adulta, não exijo a minha presença a ninguém e por isso já não espero que os outros tenham a mesma atitude (enfim nem toda a gente cresceu em casa da minha mãe, embora pense que teria sido muito bom que algumas pessoas tivessem crescido), a minha casa durante toda a minha infância e adolescência esteve sempre cheia de garotada de diferentes estratos sociais e foi assim que cresci.
De certeza que cometi erros neste campo e continuarei a cometer, mas a minha avó sempre disse, "...onde comem 3, comem 4, arranja-se sempre qualquer coisa." e é por este princípio que continuarei a viver. Ser uma porta aberta, para quem vier por bem.
Moral da história: Dêem a oportunidade aos vossos filhos de conviver com pessoas diferentes (se o fizerem tornar-se-ão adultos inclusivos) e tenham a porta da vossa casa aberta, para que os outros sintam que podem ir lá refugiar-se nos dias mais complicados.
22 de Agosto de 2020

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